Matéria, o questionamento da forma, os limites entre ordenação e desordenação, objetos únicos e outros, que são conjuntos de peças. Borracha industrial, atuação nos campos bi e tridimensional, a hipótese de uma geometria orgânica (ou de um trabalho que, sendo construtivo, não é geométrico), a constatação da permanência dos ícones, mas também de sua fratura (até a pulverização).

Eis o que faz a contemporaneidade dos trabalhos de Vânia Barbosa. Estamos sob o primado da experiência visual e de sua singularidade, mas, mais do que nunca, num campo onde o olho é obrigado a trocar do simplesmente ver e pôr-se em situação de investigação. Experiência lúdica, certamente, mas também enfrentamento do desafio de articular opacidades, diferenças, pulsões, dramas, brancos, etc.

À primeira vista, é a matéria, e, no caso, a borracha quem se impõe afirmativa no trabalho de Vânia Barbosa. Mas a observação mais vagarosa do conjunto de objetos, esculturas e instalações que ela desenvolve há mais de uma década, aponta para outra direção: o da investigação das formas. Como se colocasse uma pergunta: o que é ou pode ser a forma? A resposta, a partir do muito já realizado, é: uma tensão no espaço cuja origem remete alguma coisa do desenho (talvez a linha) carrega algo de pintura (pode ser simplesmente a cor, mas também a fatura), com poder de fundar, mas também de questionar relações com o mundo.

Walter Sebastião (jornalista), julho de 2003