Caso a escolha do teu olho recaia sobre uma das pinturas de Vânia, prepare-se. Daí por diante serás exigido como parte da aventura, e quiçá, por ventura, um de seus participantes. Nenhum acaso fez com que teu olho parasse na superfície de um deles e procurasse vazar frestas deixadas como pistas ou trama: o caminho seduz. De tão familiar, é bom que se atente ou não se chega onde fica a luz.
Como seguir pela floresta sem guias?
Eu me sinto estimulado, pensante, vivo, pulsante, numa ida sem retorno. Minhas considerações, portanto, são mais sensações que outra coisa qualquer, não pertinentes de forças, pesos, tantos e tantas mensurações de que se alimenta a sobrevivência intelectual do 2 mais 2.
Da obra fl(u)oresce a obsessão e vice-versa. Dentro e fora os passos são medidos, parcimoniosos como prescinde a revelação, o toque. E não interessa a inteligência que explica ou tenta orientar confissões íntimas: a mão quase violenta, antes (re)talha o empecilho cotidiano, (re)arranja numa outra purificação. Num outro sentido de tato.
O negro vibra.
O negro barra a translúcida luminosidade, o claro enigma da experiência de tocar com o olho. O negro mostra a roupagem.
Quem se permite o encantado jogo das (trans)aparências, reconhece nestas pinturas uma ardente comunicação com sua natureza como se intuísse uma outra pele.
A necessidade de ver emerge com faróis acessos. A bruma contém segredos de todos os tipos.
A bruma contém seus jeitos e sua mística.
Fernando Flávio Rodriguez (artista plástico) | 1992