Trajetória
Em 1984, assumi a Arte como profissão. No início, trabalhava com desenho, pintura e escultura. Tinha o papel artesanal, o pigmento natural e a borracha reciclada como meus materiais preferidos. Com o passar do tempo, este campo se expandiu.
Trabalho vários projetos ao mesmo tempo. Quando estou pintando, pinto duas, três telas simultaneamente. No desenho, passo de um para outro como se fossem a mesma coisa. Às vezes trabalho com a mesma força, seja no lápis ou no carvão. Outra vezes uso a força em um e a leveza em outro. Tudo depende do momento. Nada planejado. Com a borracha, enquanto estou na fábrica, curto a matéria. Quando ela chega no ateliê, é outro assunto. Muitas vezes a intenção inicial é totalmente alterada: deixo-me ser levada. Na fotografia não é diferente. Ao sair com a câmera, vou catando imagens. Como que fazendo uma varredura, seleciono aquilo que me interessa. Mesmo sabendo de sua importância, evito me orientar pelas regras. Aproveito esse instante de “soltura”. Na performance, tenho uma mensagem a transmitir, mas quando estou em ação o improviso atravessa meu caminho e eu o acompanho. O importante é atingir o objetivo. Os caminhos são vários.
Chegado o momento de reflexão pelo dia de trabalho, é hora de um isolamento comigo mesma. E isso nem sempre é fácil. Ao olhar para aquilo que me atraiu – no caso da fotografia, ou para aquilo que fiz – como na pintura, sou tomada por uma série de questionamentos que chegam carregados de contradições. Curto o prazer de estar diante de um novo trabalho. Questiono, e muitas vezes me sinto perdida. Gosto disso. Como lidar com as questões que surgem? Como provocá-las? Por que aquilo me atraiu? O trabalho é um terreno aberto que fica à espera do olhar do dia seguinte.
Um vasto campo de possibilidades me foi descortinado a partir do momento que passei a trabalhar com o artista canadense Scott MacLeay. Não só de ver a fotografia além da fotografia, mas de ver a arte além da arte. Os programas de produção/tratamento de imagens digitais, as novas mídias, os vídeos e sua edição, e a escuta diferenciada da paisagem sonora derrubam fronteiras e me dão força, coragem e confiança para continuar no caminho apaixonante das artes.
Vânia Barbosa 2020
Trajectory
English version
1984, I embraced art as a profession. Initially, I worked with drawing, painting, and sculpture. Handmade paper, natural pigments, and recycled rubber were my preferred materials. Over time, this field expanded.
I work on multiple projects simultaneously. When painting, I often work on two or three canvases at once. In drawing, I move between pieces as if they were a single entity. Sometimes, I apply equal intensity, whether using pencil or charcoal; other times, I vary the pressure, using force in one and lightness in another. It all depends on the moment—nothing is planned. When working with rubber, I enjoy manipulating the material while in the factory. However, once it arrives at the studio, it transforms. Often, the initial intention is completely altered—I allow myself to be carried away. Photography is no different. When I go out with my camera, I collect images, scanning my surroundings and selecting what interests me. While I recognize the importance of rules, I try not to adhere to them rigidly. I embrace this moment of “release.” In performance art, I have a message to convey, but during the performance, improvisation often intervenes, and I follow its lead. The essential thing is to achieve the goal—there are many paths.
When the time comes for reflection after a day’s work, I seek solitude. And that is not always easy. Looking at what attracted me—in the case of photography—or at what I created—in painting—fills me with a series of questions, laden with contradictions. I relish the pleasure of standing before a new work. I question it, and often feel lost. I enjoy that. How should I address the questions that arise? How can I provoke them? Why was I drawn to that? The work remains an open field, awaiting the gaze of the next day.
A vast field of possibilities opened up to me when I began working with Canadian artist Scott MacLeay. Not only did I see photography beyond photography, but I also saw art beyond art. Digital image production and processing programs, new media, video and its editing, and a distinct listening to the soundscape broke down barriers and gave me the strength, courage, and confidence to continue on this passionate path of the arts.
Vânia Barbosa, 2020