Grande parcela da produção de arte neste final de século e milênio nos conduz a um ponto zero, ao momento silencioso e despojado em que o artista, negando velhas fórmulas, se confronta com a inocência perdida com o primeiro contato com o mundo, com o nascimento espontâneo de formas, signos, símbolos.
Exaurido o modelo de civilização herdado, resta-nos, como opção, o retorno à simplicidade e à autenticidade, numa busca cega dos valores perdidos ao longo da existência.
É neste momento, nesta “síndrome” de fim de era que se enquadra o trabalho de Vânia Barbosa.
Sua obra se constrói como uma dança, um fogo: rito onde nada é excluído ou mesmo retocado.
Os acertos, assim como os erros, somam-se sobre a superfície, como rastros e vestígios, criando a força e o vigor da expressão. A artista participa, com intensidade, como criadora e espectadora do próprio fazer, na medida em que se surpreende com o despertar das formas não intencionais, com os possíveis acidentes que conduzem o trabalho.
Estar diante destes desenhos é antes de mais nada confrontar-se com a idéia da transitoriedade e da efêmera passagem do homem sobre o planeta.
Mais do que uma afirmação seus desenhos nos propõem a dúvida: Mais do que um resultado eles nos revelam uma postura, um retorno ao ponto-zero da criação.
Marco Túlio Rezende, abril de 1989
artista visual, professor na graduação e pós-graduação da Escola Guignard (UEMG) desde 1979. Mestrado pela School of the Art Institute of Chicago como bolsista da Fulbright Comission