Borracha reciclada foi um material que fez parte de minha infância. Brinquei em montanhas de pó de borracha. Gostava de entrar dentro daquele pó e sumir. Escorregava, corria e afundava. Nelas vivi um mundo de fantasias. Gostava também da ideia de saber que ela seria aproveitada novamente e teria uma nova vida. De vê-la saindo da prensa como um tecido carregado daquele preto fosco de um lado e brilhante do outro. Com ela fiz vestidos, tranças, bolas, bichos, cogumelos e muitas outras coisas. Escrevi e prensei. Rasguei e colei. Eu era uma operária e fiz grandes amigos operários.
Com o passar do tempo meu interesse foi para outro ponto. Passei a olhar para aquela borracha que chega impregnada de minério. Cansada, envelhecida, descartada. Já teve o seu tempo. Correias quilométricas revestidas de lonas para aguentar tantas montanhas transportadas. Elas contam uma história e carregam em seu corpo/matéria a grafia do tempo. Uma grafia mineral. São suportes para anotações como um livro. Observo e acompanho. Continuo o caminho.
Meu fascínio continua.
Vânia Barbosa – Verão de 2025
com arte não se brinca | borracha reciclada prensada e gravada | 140x40x7cm | 2000
lotes de qualidade | fotografia | década de 1990
sem título | borracha reciclada, madeira e presilha sobre nylon | 300x40cm cada (aprox) | década de 1990
pedra | borracha reciclada, corda de borracha e poliestireno expandido | 50x30x30cm | década de 1990