UM MUNDO DE PAPEL

O PAPEL

O papel foi um dos materiais escolhidos para desenvolver meu trabalho de arte. Sua história e sua origem vegetal me atraem, talvez pela minha ligação tão grande com a natureza. A opção não foi simplesmente por ele e também não escolhi trabalhar sobre ele. Escolhi trabalhar com ele. Dentro dele. É um momento íntimo de puro silencio, mesmo quando o ruído aparece.

Encontrado, amassado, rasgado, costurado, queimado. Reciclado. Poroso. Artesanal. Cru. Flexível. Dobrável. Frágil. Vou explorando toda a riqueza ali depositada. Guardada. Esperando o momento de se revelar. É algo quase que sagrado. Me sinto diante de um altar.

Assim fui construindo o meu mundo de papel.

Vânia Barbosa – 2025

O PAPEL Encontrado

Fala Manoel de Barros: As coisas que não existem são mais bonitas.

Desenhos de sobras do que restou, cuidadosamente acolhidos não como descarte, mas como

“ações – desenhantes”

O PAPEL Costurado 

“A costura é o rio que vai, sou a pedra que fica”, diz Edith Derdyck em seu livro Linha de costura. E vou costurando palavras, histórias, dias e qualquer tempo que me habita.

São papeis costurados ou um conjunto de desenhos com linhas de costura num diálogo também com a vida de qualquer um de nós.

O PAPEL Queimado

Num diálogo com milhares de mulheres que já foram e ainda continuam a ser queimadas. Com histórias que renascem das cinzas. Seres vivos marcados com fogo. Uma pele em brasas.

Quando queimado, muda sua cor e suporta sua fragilidade sem limites até virar cinzas que muitas vezes, corre pelo espaço em busca de pouso.

O PAPEL Amassado

Quando amassado, mostra suas rugas numa capacidade de jamais repetir-se pelas infinitas dobras que são trazidas.

A matéria é esmagada. Dilacerada e mesmo assim mantem sua existência. Em minhas mãos tem uma linha desenhada.

Uma pele barroca ou A velhice como estrangeira de nós mesmos?

O PAPEL Rasgado

Fazer rasgão ou ruptura; fazer-se em pedaços ou fragmentos. É algo que parece estar em curso, em gestação. Domino e sou dominada. O próprio papel ao ser rasgado sugere um caminho a seguir. Escuto o barulho das fibras seccionadas. Surgem linhas que passam a ser o tempo do trabalho e o ritmo da história. Sigo. Navego.

detalhe

detalhe

da série ranhuras | papel vegetal, pigmento e colagem sobre madeira | 90x65cm (cada) | década de 1990

da série ranhuras | papel artesanal, vinílica e colagem sobre madeira | 90x60cm

escrita | cera sobre papel artesanal, colagem e pigmento natural sobre madeira | década de 1990

da série vermelhos | técnica mista | pigmento, vinílica e colagem sobre papel. 100x200cm | década de 2000

a coluna, da série escritas | gesso, óleo, vinílica, e colagem sobre madeira | 150x100cm | década de 1990

escritas | vinílica e colagem sobre papel artesanal | tamanhos variados | década de 1990

nós, mulheres | vinílica e escrita com pirógrafo sobre papel artesanal | tamanho aproximado | 150x200cm | década de 2010

a cerca que nos cerca | papel artesanal, vinílica, pigmento e fogo sobre madeira. 180x180cm (aprox) | década de 1990

Da série amassados. Pigmento, gesso e colagem sobre madeira. 160x100cm. Década de 1990

escrita em vermelho | pigmento natural, pirógrafo, papel de seda e colagem sobre madeira | 100x200cm | 2000

paisagem abstrata | vinilica e colagem sobre madeira | 120x90cm | década de 1990

da série cartas | vinílica, cera, pigmento natural e colagem sobre madeira | 100x160cm | década de 90

da série caminhos | colagem de papel artesanal sobre papel artesanal, vinílica e grafite | 20x20cm e 20x30cm | década de 1990

da série escrita | fotografia, gesso, e colagem sobre madeira | 160x1100cm | década de 1990

detalhe

da série amassados | pigmento, gesso e colagem sobre madeira | 50x50cm | década de 1990

detalhe

nós, mulheres – detalhe
tinta vinílica e gravação com pirógrafo sobre papel artesanal | década de 2000 | tamanhos variados

tamanhos: 200x80cm | 220x80cm | 200x100cm | 180x50cm

tamanhos: 200x100cm | 200x100cm  | 200x100cm | 200x100cm

Tão pequeno, tão grande.

Tão frágil. Tão forte.

Tão árvore. Tão papel

Já foi.

É.